Cerca de 95% dos estudantes do terceiro ano do ensino médio das escolas estaduais de São Paulo, segundo dados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2007, não dominam a matemática, incluindo as quatro operações. Não sabem o básico.
Na área de português o desempenho foi melhor. O que não significa que a situação esteja boa. Pelo contrário. Conheci pessoas que ao terminarem o ensino médio não conseguiam escrever palavras difíceis. Ter a compreensão de um texto então, nem pensar.
E para que serviram todos os anos que passaram na escola? Ora, para dizer que estão num nível de escolaridade médio. E para se iludirem, pois isso não é verdade. Como isso foi acontecer? Ninguém percebeu que os alunos não estavam aprendendo o mínimo? Provavelmente alguém percebeu.
Algo se perdeu no caminho quando a política educacional focou seus esforços na diminuição da reprovação e na evasão escolar - um problema muito sério. Para contorná-lo, foi implantada a progressão continuada em 1998 na rede pública do Estado de São Paulo. Com esse sistema, o ensino fundamental é dividido em duas etapas – de 1ª a 4ª série e de 5ª a 8ª. O aluno só pode ser retido no final de cada ciclo. A reprovação e a evasão foram contornadas, mas a questão de se formar os jovens não.
O ideal e a prática
A progressão continuada é muito interessante. Em teoria, ela pretende que o aluno seja constantemente avaliado e não só no momento da prova. A partir dessas avaliações é possível organizar as aulas e promover seu aprendizado. Esse é o ideal - e é muito trabalhoso e exige do docente um preparo grande. Normalmente, não é isso que ocorre.
Comumente, diante de novas políticas educacionais, um dos principais agentes de sua realização fica alienado de sua construção e implantação – o professor. Em outras palavras, institui-se algo e os professores acabam tendo que se virar sem orientação nenhuma. Não se leva em conta que eles também necessitam aprender as novidades.
A atividade docente é bastante complexa e, num sistema como esse, exige-se muito do professor e dos recursos da própria escola. Às vezes, mesmo os professores acabam confundindo os termos progressão automática e progressão continuada. Embora, o que parece que vem ocorrendo é a progressão automática mesmo.
Não é culpa dos professores. Como em toda área, na docência há os maus profissionais e os bons. Os envolvidos com o trabalho, provavelmente, devem estar frustrados com os resultados do Saresp.
Com a evasão escolar está tudo bem: parece que foi contornada. Porém o problema foi empurrado para frente, quando o jovem já não está sob as asas da escola. Espera-se que a escola dê condições de as pessoas enfrentarem melhor a vida, principalmente o mercado de trabalho. A idéia é que, após o estudo, tornem-se pensantes e críticas, verdadeiras cidadãs.
Vamos torcer para que os dados do Saresp não resultem apenas em medidas pontuais para atenuar o problema da matemática. Mas que sirvam para que a prática pedagógica, a partir da proposta da promoção continuada, seja transformada. É necessária a formação daqueles que vão estar no dia-a-dia da sala de aula. Falar e pôr no papel é fácil. Realizar é algo bem diferente.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
fonte:http://g1.globo.com/Noticias
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