Sem
compreender o que se faz, a prática pedagógica é uma reprodução de
hábitos e pressupostos dados, ou respostas que os professores dão a
demandas ou ordens externas. Conhecer a realidade herdada, discutir os
pressupostos de qualquer proposta e suas possíveis conseqüências é uma
condição da prática docente ética e profissionalmente responsável.
As teorias e o pensamento educativo se
apresentam, em muitos casos, como legitimadores de realidades e projetos
com uma autoridade técnica que oculta as dimensões éticas, sociais,
pedagógicas e profissionais dos fatos e usos no sistema educativo. Em
Compreender e Transformar o Ensino, os autores analisam os problemas e
as práticas que foram e são essenciais para dar conteúdo e sentido à
realidade do ensino.
Os professores como planejadores
Embora o professor não seja o único
agente que elabora o currículo escolar, possui um papel importante ao
traduzir para a prática qualquer diretriz ou seleção prévia dos
conteúdos.
Desta forma, além do professor auxiliar
na elaboração dos currículos escolares, sua participação vai além,
desempenhando atividades práticas como a elaboração de roteiros de
conteúdos, preparo de atividades ou tarefas, previsão de materiais que
serão utilizados, confecção ou seleção dos mesmos, acomodação do
mobiliário em sala de aula, etc.
A prática de planejamento de professores
pode ser vista sob uma perspectiva gerencial, isto é, como um passo que
faz parte do processo de desenvolvimento do currículo. Também pode ser
encarada sob uma ótica fenomenológica, onde a programação dos
professores são as operações que estes realizam quando planejam. Já sob
uma perspectiva técnico-cientificista, os professores, ao programar ou
planejar, desejam alcançar racionalidade em suas decisões.
A perspectiva psicológica, por sua vez,
entende que os processos de planejamento incluem as atividades mentais
que os professores desenvolvem ao realizar seus projetos, assim como
quando aplicam os planos à realidade, visto que planejar implica tomar
decisões, considerar alternativas e resolver problemas. E um enfoque
coerente com a tradição acadêmica determina que o professor, como
planejador, deve seguir a estrutura interna do conhecimento que leciona
em diferentes áreas ou disciplinas.
Finalmente, a perspectiva prática
entende o plano curricular como função básica dos professores, que
reflete em seu trabalho a sua profissionalização.
O enfoque prático concede valor à
habilidade dos professores em buscar a forma de aprendizagem mais
adequada aos interesses dos alunos, partindo da premissa de que aprender
é conseqüência de um envolvimento pessoal e de um processo de reflexão
que não pode ser previsto desde o começo. Porém, ao lado dos pontos
positivos há também fatores negativos, e a maior dificuldade desse
enfoque reside no fato de se apoiar demasiadamente nas possibilidades do
professor, mas não propor soluções, deixando o educador totalmente à
mercê dos acontecimentos externos.
Configuração de um modelo prático para os professores
Num enfoque prático o professor não atua
seguindo modelos formais ou científicos, nem segue à risca modelos de
ensino ou de aprendizagem. Isso não impede, porém, que o professor possa
aproveitar idéias e teorias científicas, mas quando fizer isso deverá
sempre dar seu toque pessoal às situações que surgirem.
Em seu trabalho em sala de aula, o
primeiro desafio do professor consiste em manter a cooperação dos
estudantes nas atividades propostas. Conseguindo que seu trabalho flua e
que dê bons resultados. Sendo assim, o professor deve-se levar em conta
os desafios mais elementares que o ensino apresenta, e não
subestimá-los. Conclui-se que o sucesso dos planos curriculares devem
muito à habilidade prática do professor em controlar e sanar situações
deficitárias em seu ambiente de trabalho.
Também para um bom sucesso na
implantação dos planos curriculares e um melhor esclarecimento daquilo
que se pretende, é importantíssimo que os professores os elaborem com
base em esquemas mentais, geralmente não explicitados, e que por sua vez
baseiam-se em esboços escritos. E o mais importante de qualquer
programação escrita é que ela seja um reflexo real dos esquemas mentais,
não seguindo pura e simplesmente exigências burocráticas da escola.
O plano curricular significa para os
professores a oportunidade de repensar a prática, representando-a antes
de concretizá-la. O desenvolvimento dessas atividades deve seguir um
processo cíclico: pensar antes de decidir, observar ou registrar o que
acontece enquanto se realiza o processo e aproveitar os resultados e
anotações tomadas em relação ao processo seguido para se ter em mente
como melhor proceder em uma nova oportunidade.
Quando um professor planeja encontra-se
perante o fato de que é preciso ensinar os seus alunos, isto é,
desenvolver um currículo. Para tanto pode-se partir de três
considerações:
a) Condições da situação na qual se
realiza: A prática institucionalizada é uma realidade, podem até ser
propostas algumas reformas, mas nunca será algo totalmente novo. Porém,
pelo menos em parte, o caráter de determinada situação poderá ser
moldado pelo professor. Não ocorrem situações totalmente abertas, mas
tampouco de todo fechadas;
b) O currículo dado aos professores e aos materiais: É preciso que os
professores ponham em prática ações concretas para desenvolver o
currículo a eles incumbido. Assim, com o auxílio de guias curriculares,
livros-textos, etc, precisam, através de processos ensino-aprendizagem,
efetivamente cumprir o estipulado nos currículos escolares;
c) Um grupo de alunos por possibilidades e necessidades concretas: Toda a
aprendizagem surge da interação do novo com o existente, por isso é
preciso levar em conta a vida pregressa e as necessidades individuais
dos alunos. Ao contrário do que expunham os planos altamente
estruturados, que buscavam um modelo universal válido para todos os
educandos, os professores devem entender o ensino como um processo
singular.
Por outro lado, as soluções que o professor pode dar em relação aos problemas com os quais se depara podem ser:
a) Os dilemas ou possibilidades de
planejamento: O professor deve decidir se faz um plano para toda sua
disciplina, para uma unidade concreta, para um conteúdo delimitado, etc,
defronte a um rol de possibilidades bastante extenso;
b) Previsão global de metas: O professor deve sempre ficar atento quanto
às metas que se propôs alcançar, e ter em mente uma certa visão do que
servirá para os alunos os trabalhos que realiza com eles;
c) Experiência prévia: Ao mesmo tempo que a experiência prévia dos
professores mostra-se bastante útil na condução de situações delicadas
surgidas no processo ensino-aprendizagem, revela seu lado negativo ao
acomodar o professor, inibindo-o de buscar novas soluções para seus
problemas;
d) Materiais disponíveis: Os recursos que o professor dispõe, não apenas
os livros-texto, e sua capacidade para aproveitar e buscar materiais
fora das salas de aula, auxiliam-no a escolher as atividades que melhor
se enquadrarem ao que pretende. A própria experiência que o educador
possui o fará buscar materiais apropriados, mais variados e atrativos
para os alunos.
A utilidade do plano para os professores
A utilidade fundamental do plano curricular desenvolvido pelos professores está nas seguintes razões:
a) Facilita o enriquecimento profissional, por ser uma atividade que leva o professor a refletir sobre a prática de ensino;
b) O plano determina as linhas gerais das atividades que serão
desenvolvidas, o que serve como referencial a ser seguido pelos
professores;
c) O plano aproxima os educadores de seus educandos, pois alia o pensamento e a teoria com a ação de educar;
d) Os planos, sendo referenciais de ações, dão mais segurança ao professor no desenvolvimento de suas atividades;
e) Os planos prévios forçam o professor a buscar materiais de trabalho
para suas aulas, deixando de basear-se pura e simplesmente no
livro-texto;
f) Os planos do professor, uma vez conhecidos e discutidos com os
alunos, mostram-se uma forma de criar laços de comprometimento entre
educador e educando;
g) Os planos dos professores, somados aos registros efetuados em um
diário de classe, mostrando a forma como foi desenvolvida a atividade,
revelam-se uma boa forma de compartilhar informações com colegas do
magistério;
h) Se, depois de experimentados, os planos mostrarem-se positivos, serão um bom recurso para avaliar processos educativos.
Dimensões de um modelo prático
Quanto às dimensões de um modelo de
planos, não há uma fórmula mágica a se apresentar: o seu sucesso
dependerá da situação particular de cada caso. Porém pode-se dar algumas
sugestões:
a) Metas e objetivos: É necessário que o
professor entenda perfeitamente quais são suas metas e objetivos antes
de começar a elaborar o seu plano. Convém que reflita sobre suas
finalidades e compare as conseqüências do que faz com os objetivos
propostos;
b) Decisão de conteúdos: Planejar um currículo exige que o professor
domine a matéria que irá transmitir aos seus alunos, que conheça os seus
conteúdos a fundo para poder escolher os que mais interessarem em
determinado momento;
c) Organização do conteúdo: Na organização dos conteúdos deve-se abordar
dois tipos de opções: os pontos de referência em torno dos quais
agrupar o conteúdo (temas, unidades didáticas, lições) e a seqüência ou
ordem dos mesmos;
d) Tarefas ou oportunidades de aprendizagem: Enquanto os objetivos e
conteúdos estiverem somente no papel, mostram-se inúteis, sua utilidade
aparecerá quando forem efetivamente praticados. É necessário uma
interação entre o estudante com o conteúdo para que se processe de fato a
aprendizagem. Assim, os professores, ao analisar e selecionar as
atividades, devem levar em conta a coerência com os fins gerais da
educação, a capacidade para extrair possibilidades educativas genuínas
de uma disciplina, ver o grau de motivação, globalidade e estruturação
da atividade, etc;
e) Apresentação do conteúdo e dos materiais: Grande parte dos conteúdos
do currículo necessitam de um suporte sobre o qual os alunos irão
desenvolver suas atividades. Esses suportes poderão ser gráficos,
imagens fixas, filmes, etc. Grande importância deve-se dar ao
livro-texto, porque em torno de seu uso será organizada boa parte das
atividades dos alunos;
f) Produção exigida ao aluno: Para um professor poder avaliar os seus
alunos, precisa que estes desenvolvam uma série de atividades, tais como
resumos de textos, provas orais e verbais, etc. Porém quanto maior for o
número de meios empregados, maior será a probabilidade de uma boa
avaliação;
g) A consideração das diferenças individuais: A aprendizagem é um
processo que varia de aluno para aluno, mas ante a esta verdade buscar
métodos específicos para cada aluno ou adaptar materiais para as
necessidades de alunos com carências especiais está fora do alcance da
maioria das escolas e professores da atualidade. Porém em relação às
diferenças individuais, os professores podem optar por uma organização
flexível de seu trabalho, que permita a expressão das pecularidades e
uma atenção diversificada aos estudantes dentro da sala de aula;
h) A participação e o compromisso dos alunos: Uma preocupação básica dos
professores é que o ensino flua com naturalidade, e para tanto é
necessário um certo compromisso e comprometimento do aluno com as
tarefas estipuladas. Para que isso aconteça o conteúdo e as atividades
devem adequar-se às possibilidades dos alunos e representar desafios
estimulantes. Desta forma a educação deve ser atrativa e produto de uma
colaboração entre professores e alunos, união de fatores que só tende a
trazer resultados positivos;
i) Adequação ao cenário: A atividade de ensino realiza-se em um
determinado espaço físico, e cabe aos professores ordenar o mobiliário e
os recursos didáticos existentes, distribuindo-os na melhor forma
possível na sala de aula;
j) Avaliação: A avaliação é uma exigência formal e que causa muito
impacto em todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Assim,
cabe ao professor fazer com que seja o menos traumática possível,
através da escolha de melhores técnicas, do momento certo de
realizá-las, definindo o real objetivo das mesmas, etc.
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